Simon’s Town, uma das pacatas
vilas balneares que fazem parte do percurso Cidade do Cabo – Cabo da Boa
Esperança.
Chegou finalmente o momento
de viajar até ao mítico Cabo. Esta vai ser uma caminhada fácil e confortável,
por estrada, sem ventos nem marés nem monstros Adamastores. A paisagem é
idílica, o sol brilha e a temperatura está amena. Esta é uma viagem que deveria
envergonhar qualquer navegador que se preze, como me deveria envergonhar a mim,
de tão fácil que é. A estrada corre em proximidade com o mar sem fim. Ao
contrário, lá longe, a sul do Cabo da Boa Esperança, mais ou menos por volta do
paralelo 60, encontra-se uma linha de correntes marítimas e de ventos ciclónicos
desaconselháveis para a presença humana. Ali se cruzam as águas geladas da Antártida
com as águas frias que vêm do norte no único sitio onde é possível circundar o
planeta por mar sem nunca encontrar terra. Ali conseguimos saber por
experiência própria que a terra é mesmo redonda ... se chegarmos ao fim.
Amir Klink, o navegador
brasileiro que por ali passou em 1998, numa viagem de circunavegação em que
esteve 141 dias sem pisar terra, escreveu assim no seu magnifico livro “ Mar
sem Fim”:
“Hoje
entendo bem o meu pai. Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de
histórias, imagens, livros ou tv. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés,
para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e
dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar do calor. E o oposto. Sentir a
distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa
viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz
ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é, que nos faz
professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e
simplesmente ir ver”.
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