quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Marrocos 2011


Safi


Subindo o emaranhado de ruas chego finalmente ao topo da medina. Safi foi conquistada pelos portugueses em 1508 e abandonada pelos mesmos em 1542. Toda a muralha da medina, o traçado das ruas e das casas são de origem portuguesa, assim como o que resta da antiga catedral e o famoso Castelo do Mar ( que não aparece no desenho). Uma das coisas que mais me fascina na história de Portugal não são propriamente as conquistas mas sobretudo os abandonos. Andar a construir cidades pelo mundo é obra, mas ter, depois, que as abandonar ainda me parece mais grandioso. Passámos cem anos a construir e depois tivemos quatrocentos anos para abandonar tudo, até voltarmos de novo para o nosso pequeno rectângulo à beira mar plantado para fazermos outra vez de conta que somos europeus. 

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Marrocos 2011


Safi - medina


Na altura em que caminho pelo subúrbio fantasma da cidade de Safi em direcção à medina ainda não sei que o autor do terrível atentado de Marrakesh que aconteceu no dia 28 de Abril de 2011, portanto quinze dias antes de ter iniciado esta viagem, é desta cidade, ele e mais os dois outros amigos cúmplices do atentado.
Adil Al-Atmani tinha um sonho que era juntar-se a grupos terroristas na Chechênia e Iraque, mas foi detido por duas vezes em Portugal, em 2004 e 2007, e recambiado para o seu país de origem. Na impossibilidade de conseguir cumprir esse objectivo, optou pela prata da casa e decidiu apontar baterias ao café Argana em Marrakesh, por ser um local frequentado maioritariamente por turistas. Dessa decisão resultaram  os 16 mortos e 21 feridos que todos ainda lembramos.
Entretanto Adil Al-Atmani foi julgado e condenado a pena de morte, juntando-se assim a mais 103 condenados que aguardam pelo cumprimento da mesma pena em prisões marroquinas.

Mas no momento em que começo a percorrer as ruelas da medina ainda nada disto se sabe e por isso a minha atenção está apenas concentrada no que os meus olhos vêem: ruínas da antiga catedral portuguesa, uma teia de ruas e casas em adiantado estado de decadência, crianças com baldes de água à cabeça, pessoas que espreitam de dentro das casas, cães e gatos abandonados a esgravatar restos de comida nos sacos de lixo espalhados pelos cantos, jovens com camisolas do Barcelona e Real Madrid, jovens com outro tipo de camisolas, grupos de jovens aparentemente sem nada para fazer, pequenas e sujas lojas de comércio local com velhos sem dentes atrás de um balcão …

E a viagem continua.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Marrocos 2011


Safi

Apanho o autocarro em Essaouira e três horas depois chego a Safi. Ruas desertas, casas em ruínas, alguma arquitectura colonial muito mal tratada. A sensação de ter chegado a uma cidade fantasma. O Marrocos urbano, profundo, longe dos roteiros turísticos, em todo o seu esplendor dá-me as boas vindas. O sol abrasador e a nortada forte que sopram na costa a esta hora do dia não convidam ninguém a estar na rua, só mesmo eu para contrariar esta pacata e estranha forma de vida. Hoje os habitantes da cidade não se vão poder queixar da falta de turistas.