quarta-feira, 23 de maio de 2012

Marrocos 2011


Praça Jamaa el Fna.

Todos os autarcas de Portugal deveriam ir pelo menos uma vez na vida a Marrakech e verem com os seus próprios olhos a vida da cidade para tentarem perceber porque é que neste nosso país, e salvo raras excepções, os centros urbanos estão a definhar em lume brando a caminho do mais completo estado vegetal.
A praça Jamaa el Fna é o coração e o ponto de encontro de referência da cidade. Naquele pequeno espaço podemos tomar-lhe o pulso e tirarmos as nossas conclusões. É engraçado perceber que a praça não tem nenhum monumento de relevo, não é especialmente bonita nem tem sequer vistas naturais que possamos referir. No entanto,  à sua volta, todos os terraços e esplanadas se enchem diariamente de pessoas. O que é que torna tão atraente esta praça é a pergunta que fica?
Jamaa el Fna consegue este pequeno milagre que é, reunir num mesmo espaço diferentes actividades, sem que umas choquem com outras. Restaurantes de rua, bancas de comida, vendedores ambulantes das mais diferentes áreas, pequenos espectáculos, turistas de todas as partes do mundo, habitantes da própria cidade, transeuntes e mesmo carros, motas e bicicletas em quantidades equilibradas. É esse fervilhar, essa dinâmica, essa vida que a cidade tem que a torna irresistível para quem ali chega.
Alguém é capaz de imaginar a Praça do Comércio ou o Rossio com este ambiente depois das oito horas da noite?


quinta-feira, 17 de maio de 2012

Marrocos 2011


Marrakech

Uma das grandes imagens de marca de Marrocos, e do mundo árabe no geral, são as suas cidades. A geometria das ruas, a disposição e a arquitectura das casas são para mim um pequeno milagre da engenharia humana. Estamos de tal maneira esmagados pela imposição do automóvel no dia a dia do nosso mundo ocidental que até nos esquecemos do prazer que é podermos ter a rua só para nós, só para as pessoas. A labiríntica malha urbana das medinas árabes têm origens medievais, numa altura em que as cidades eram feitas para as pessoas e à escala das pessoas. A rua era o ponto de encontro de toda a actividade humana e a casa o refugio. O resultado disso são estas espantosas ruelas, com becos, cantos e recantos, sons e silêncios que nos deixam espaço para a vida. Dentro de uma medina vive-se a uma determinada velocidade, fora da medina vive-se dez vezes mas acelerado. Depois temos a casa, essa coisa espantosa que se chama riad, uma verdadeira criação do génio humano. Os riads têm no seu adn o essencial da chamada "vila romana, ou seja um pátio no meio para onde estão voltadas todas as divisões da casa. No pátio existe normalmente uma laranjeira ou limoeiro e um fio de água a correr para um pequeno tanque. O contacto com o exterior fica quase sempre limitado ao terraço, que é o lugar de eleição para descansarmos no final de cada dia. Os materiais usados ( a taipa e a cal ) são as outras peças importantes desta complexa e ao mesmo tempo simples engrenagem que são os riads. As paredes grossas e a disposição das divisões possibilitam uma temperatura equilibrada no interior das casas deixando-as imunes aos calores sufocantes do verão ou ao terrivel frio dos invernos.
Acordar bem cedo e abrir a porta do quarto para deixar entrar o chilrear dos pássaros, ou adormecer ao som de um fio de água a cair no tanque do pátio. Entre estas duas maldades que venha o Diabo e escolha.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Marrocos 2011



A Koutubia é ainda hoje o edifício mais alto de Marrakech, mas mais do que isso continua a ser o verdadeiro símbolo da cidade.
Ao fim da tarde, quando o pôr-do-sol faz explodir toda a gama de tons alaranjados dos edifícios, a cidade atinge o seu ponto mais alto.  O chilrear estridente dos pássaros mistura-se com a agitação das ruas e com a suave brisa que desce das montanhas para se juntarem todos numa espécie de celebração à vida. A koutubia, do alto da sua história vai observando a cidade. A noite começa a cair, a cidade começa a despertar.