sexta-feira, 20 de abril de 2012

Marrocos 2011


Praça Foucauld a meio caminho entre a praça Jama el Fna e a Koutubia.
Acordar cedo para aproveitar o fresco da manhã, o silêncio da medina e o chilrear dos pássaros. Quando o sol se levantar e o calor apertar a sério procuraremos uma sombra e um chá de menta e deixaremos o tempo passar lentamente até o final da tarde nos devolver de novo o melhor da cidade.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Marrocos 2011


Praça Jama el Fna, em Marrakech.


Quinze dias depois de um atentado terrorista ter morto dezasseis pessoas em Marraquech, a praça parece querer voltar a respirar a mesma calma e tranquilidade que sempre a caracterizou. Os encantadores de serpentes, os aguadeiros, os contadores de histórias, os malabaristas, os músicos e os turistas voltam de novo a ocupar um espaço que é seu por excelência, tentando reagir  à onda de medo generalizado que naturalmente daí resulta. O terrorismo é a chaga da nossa sociedade, não só porque mata, mas principalmente porque nos contamina com doses maciças de medo, e o medo é o maior inimigo da vida. As marcas do atentado ainda estavam bem visíveis na destruição parcial de um dos cafés mais emblemáticos da praça Jama el Fna, o café Argana, mas preferi concentrar a minha atenção noutros pormenores bem mais emblemáticos da vida da praça.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Marrocos 2011


Hotel La Mamounia, em Marrakech.


Este desenho do famoso hotel La Mamounia, em Marrakech, dá início a este novo caderno. Em 2011 voltei a Marrocos, um regresso que começa já a ser um hábito mas sobretudo um tónico para a alma. Tão perto de Portugal e tão diferente. Bastam duas horas e meia de viagem para que de repente quase tudo mude. Chegar a Marrakech por volta das 15 horas é perfeito e dá-nos o tempo suficiente para sentirmos os primeiros bafos de calor vindos do deserto, para nos dirigirmos ao centro da cidade e nos instalarmos confortavelmente num dos muitos riads que existem à nossa disposição dentro da medina. Há ainda tempo suficiente para nos dirigirmos depois à praça Jama el Fna e tranquilamente, enquanto a hora do jantar não chega, disfrutar de um tradicional chá de menta. Aos poucos a praça começa a fervilhar de gente e de atividade. O cheiro da comida mistura-se com o som dos músicos, o barulho das motas, o pregão dos vendedores de água, e as vozes dos encantadores de serpentes e dos contadores de histórias. De repente tudo na praça é vida, como se numa fracção de segundo acordasse da letargia e indolência provocada pelo calor abrasador do dia. Paul Bowles dizia que a cidade de Marrakech é sobretudo a sua praça. “Tirem a praça à cidade e não sobra nada”.  Eu acrescentaria: é a praça e mais o La Mamounia. O hotel trouxe à cidade a possibilidade de se misturarem no mesmo sitio dois mundos diametralmente opostos.  Uma mistura que passou, no fundo, a ser a imagem de marca da cidade. Desde 1923, data da sua construção, que o hotel não mais parou de receber pessoas dos quatro cantos do mundos, sendo talvez Winston Churchill aquele que mais lhe está associado. Recentemente encerrou para obras, reabrindo em 2009, três anos depois, com um novo conceito de luxo mas com o mesmo glamour de sempre. Visitar hoje o hotel não é fácil mas é possível, mediante prévia marcação e vale mesmo a pena porque é uma viagem no tempo e na história.
Mas entretanto a noite cai, e podemos então começar a pensar no jantar: umas azeitonas, polpa de tomate, azeite e orégãos com pão, como entrada, a seguir uma salada mediterrânica e uma tagine de borrego, depois é deixar o tempo passar, só isso. É tão simples não é?



domingo, 1 de abril de 2012

Istambul 2011



Estação de comboios de Istambul


Quase todas as cidades têm os seus mitos e as suas histórias. Alguns flutuam no ar e respiram-se logo à saída do avião, outros estão presentes em coisas tão simples como uma pedra ou uma árvore. A estação de comboios de Istambul assim como o clássico hotel Pera, não são propriamente coisas simples e discretas na sua volumetria, antes pelo contrário, estão certamente na categoria dos grandes monumentos da cidade, mas acredito que já quase ninguém lhes dê a importância que tiveram num passado recente. Estes dois edifícios esbatem-se hoje um pouco na paisagem acelerada da cidade, fazendo um esforço para exibir bem alto os galões da sua história. É impossível dissociá-los apesar da relativa distância geográfica que existe entre os dois. A estação foi construída para ser o destino final do mítico Expresso do Oriente, na Europa, e o Hotel Pera Palace o local onde se alojavam os seus passageiros mais abastados, numa altura em que chegar a Istambul, via Paris, era entendido verdadeiramente como uma “viagem” e não uma passagem, como hoje, onde nos atropelamos a correr nos aeroportos com os olhos sempre postos num ecran, de um qualquer computador, de um ipod, ipad, iphone. O tempo de uma viagem era também um tempo para se viver, e quando a vida não cabia na própria realidade inventavam-se “outras vidas” e “outras realidades”.
Sobre este mítico comboio existem seguramente uma boa mão cheia de livros, filmes e documentários, que fizeram dele um dos comboios mais famosos do mundo, mas bastaria apenas um livro para o imortalizar. O “Crime no Expresso do Oriente”, que Agatha Christie terá escrito no alegado quarto 411 do Pera Palace Hotel ( será verdade?) foi mais um dos seus inúmeros livros que na altura a ajudaram a criar um fenómeno literário à escala global ( com mais de dois mil milhões vendidos na sua totalidade até hoje ). Sem ele a escritora não ficaria nem mais pobre nem menos famosa, mas seguramente que nem a estação nem o hotel seriam hoje recordados da mesma forma se este livro não tivesse sido escrito.

Estes dois desenhos que fecham o caderno de Istambul devem particularmente a sua existência ao facto de, tanto a estação como o Pera Palace Hotel se terem tornado verdadeiras lendas vivas, quanto mais não seja no meu imaginário. Fica assim registada esta minha divida para com o livro e a sua autora no último post deste caderno.

No próximo caderno regresso a Marrocos, um regresso sempre desejado e festejado.

Istambul 2011


Pera Palace Hotel