quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Índia 1995

Dois desenhos feitos em Benares, na Índia, em 1995



Uma pausa no caderno da África do Sul para um post sobre Muhammad Yunus


Há uns anos atrás dei por mim a ler os livros de Muhammad Yunus e percebi rapidamente uma coisa. Ele não devia ter ganho o prémio Nobel da Paz mas sim o Nobel da Economia. A ideia que está por trás da atribuição do prémio é legitima e pode fazer sentido ( não é possível haver paz num mundo com pobreza ), mas depois de conhecer razoavelmente bem o seu trabalho só pude concluir que a Academia Sueca teve medo de entrar pelo caminho da economia e decidiu dar-lhe um reconhecimento mas, reencaminhando-o para o país vizinho ( o Nobel da paz é atribuído pela Noruega ).
Segundo Yunus, aquilo que move o Homem na sua vida são basicamente 3 coisas: o dinheiro, o reconhecimento ( fama, glória ), o prazer pessoal ( gosto, paixão, amor, vontade, etc. ). É uma destas 3 coisas ( ou a conjugação de mais do que uma ) que normalmente nos motiva para um objectivo. Aquilo que a história da humanidade nos diz é que, basicamente, a nossa motivação foi sempre assente no dinheiro. Esse facto levou a que se instalasse e se perpetuasse durante décadas um sistema de miséria no seu país natal ( Bangladesh ). Foi para tentar resolver esse problema que ele criou o Grameen bank em 1976. A filosofia do banco era simples, oferecer crédito praticamente sem juros a pessoas pobres para poderem estruturar economicamente a sua vida, libertando-se assim de um sistema de permanente escravatura económica em que viviam. Foi estabelecido com todos os funcionários do banco um ordenado que lhes possibilitasse uma vida normal mas sem direito a aumentos no futuro. Todo o dinheiro ganho pelo banco seria aplicado em novos empréstimos. A motivação dos trabalhadores foi feitas através de condecorações ( uma espécie de estrelas que eles colocavam na camisa, como fazem os militares ). O resultado do trabalho da equipa do Grameen foi impressionante. Percebeu-se que toda a gente que recorreu a empréstimos pagou sempre tudo no tempo acordado, rapidamente uma percentagem enorme da população deixou de viver abaixo do limiar da pobreza, mas mais do que isso todos os trabalhadores do banco passaram a ser adorados, respeitados e venerados pela generalidade do país. Mais do que um sucesso social e económico, Muahmmad Yunus conseguiu um verdadeiro milagre, provar na prática que uma nova economia pode reger o mundo. Como ele próprio disse o problema não está forçosamente no capitalismo ( de quem ele é defensor ), mas na forma como este capitalismo atua sobre todos nós e sobre as nossas motivações.Quando Nelson Mandela foi libertado em 1990, referiu na altura que não era só ele que estava a ser libertado mas também todos os brancos do país, que tinham vivido igualmente acorrentados mas, ao contrário dele, a uma forma tacanha de olhar para o mundo. O que Muahmmad Yunus também nos mostrou com esta sua experiência do Grameen Bank é que não foram só o pobres que ganharam no Bangladesh, foram igualmente os ricos … por muito que lhes custe a perceber.

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