domingo, 1 de abril de 2012

Istambul 2011



Estação de comboios de Istambul


Quase todas as cidades têm os seus mitos e as suas histórias. Alguns flutuam no ar e respiram-se logo à saída do avião, outros estão presentes em coisas tão simples como uma pedra ou uma árvore. A estação de comboios de Istambul assim como o clássico hotel Pera, não são propriamente coisas simples e discretas na sua volumetria, antes pelo contrário, estão certamente na categoria dos grandes monumentos da cidade, mas acredito que já quase ninguém lhes dê a importância que tiveram num passado recente. Estes dois edifícios esbatem-se hoje um pouco na paisagem acelerada da cidade, fazendo um esforço para exibir bem alto os galões da sua história. É impossível dissociá-los apesar da relativa distância geográfica que existe entre os dois. A estação foi construída para ser o destino final do mítico Expresso do Oriente, na Europa, e o Hotel Pera Palace o local onde se alojavam os seus passageiros mais abastados, numa altura em que chegar a Istambul, via Paris, era entendido verdadeiramente como uma “viagem” e não uma passagem, como hoje, onde nos atropelamos a correr nos aeroportos com os olhos sempre postos num ecran, de um qualquer computador, de um ipod, ipad, iphone. O tempo de uma viagem era também um tempo para se viver, e quando a vida não cabia na própria realidade inventavam-se “outras vidas” e “outras realidades”.
Sobre este mítico comboio existem seguramente uma boa mão cheia de livros, filmes e documentários, que fizeram dele um dos comboios mais famosos do mundo, mas bastaria apenas um livro para o imortalizar. O “Crime no Expresso do Oriente”, que Agatha Christie terá escrito no alegado quarto 411 do Pera Palace Hotel ( será verdade?) foi mais um dos seus inúmeros livros que na altura a ajudaram a criar um fenómeno literário à escala global ( com mais de dois mil milhões vendidos na sua totalidade até hoje ). Sem ele a escritora não ficaria nem mais pobre nem menos famosa, mas seguramente que nem a estação nem o hotel seriam hoje recordados da mesma forma se este livro não tivesse sido escrito.

Estes dois desenhos que fecham o caderno de Istambul devem particularmente a sua existência ao facto de, tanto a estação como o Pera Palace Hotel se terem tornado verdadeiras lendas vivas, quanto mais não seja no meu imaginário. Fica assim registada esta minha divida para com o livro e a sua autora no último post deste caderno.

No próximo caderno regresso a Marrocos, um regresso sempre desejado e festejado.

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