Joanesburgo - Arts on Main
Joanesburgo é claramente uma típica
cidade do novo mundo. A descoberta de grandes jazidas de ouro na região, no
final do século XIX, chamou pessoas dos
quatro cantos do país para o planalto de 1700 metros de altitude, onde
rapidamente trataram de construir casas e ruas, ao melhor estilo do “faroeste”
americano. No século XX a cidade desenvolveu-se, como qualquer cidade do novo
mundo, a par com a evolução da industria automóvel.
Esse facto determinou a
geometria e a escala da cidade, com ruas e quarteirões desenhados entre
paralelas e perpendiculares e com uma área metropolitana significativamente
grande. Joanesburgo tornou-se sobretudo numa cidade para os carros e em
contraponto muito pouco apelativa para
trazer pessoas para a rua. A este facto juntou-se outro ainda mais dramático; o
apartheid. Estes dois factores determinaram a relação entre seus habitantes.
Uma cidade que cresceu de costas voltadas para as pessoas e por sua vez com
pessoas de costas voltas para elas próprias não poderia nunca correr bem. Quando
o espaço não é vivido, não tem uma escala humana e quando as pessoas não estão
disponíveis para se encontrarem e se confrontarem dificilmente alguém pode esperar outro resultado que não este
que hoje existe. Joanesburgo é, como se sabe,
uma das cidades mais violentas do mundo, mas não é uma violência que
resulta propriamente da injustiça das diferenças económicas, que existem, mas
sobretudo de uma cultura instalada na sociedade, uma cultura de descriminação, de
desprezo pela vida humana e pelo valor e reconhecimento individual. Esta
cultura produziu um medo generalizado no país mas sobretudo nesta cidade. Ao
medo, as pessoas responderam com sistemas de segurança que as afastaram ainda
mais da cidade e delas próprias. Como resultado disso o centro da cidade
desertificou-se e foi deixado ao abandono, nas mãos de quem luta diariamente
pela sobrevivência. A cidade parecia ter chegado a um ponto de não retorno até que
um empresário, lunático, se lançou numa
aventura utópica. Comprou “meia dúzia” de quarteirões no centro e criou o
projecto Arts on Main. O Arts on Main funciona num espaço multidiversificado,
em antigos armazéns e edifícios, onde se incluem áreas de restauração, de comércio e de arte e
espéctaculo alternativo. Há segurança na
entrada das ruas que dão acesso ao espaço o que liberta as pessoas da habitual
tensão que têm quando se deslocam no espaço público. O caminho a percorrer é
enorme mas por agora o Arts on Main parece ser a única luz de esperança para quem
deseja ver a cidade multicultural e multirracial fazer as pazes consigo mesmo.
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