quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

África do Sul 2012


Joanesburgo - Arts on Main


Joanesburgo é claramente uma típica cidade do novo mundo. A descoberta de grandes jazidas de ouro na região, no final do século XIX,  chamou pessoas dos quatro cantos do país para o planalto de 1700 metros de altitude, onde rapidamente trataram de construir casas e ruas, ao melhor estilo do “faroeste” americano. No século XX a cidade desenvolveu-se, como qualquer cidade do novo mundo, a par com a evolução da industria automóvel.
Esse facto determinou a geometria e a escala da cidade, com ruas e quarteirões desenhados entre paralelas e perpendiculares e com uma área metropolitana significativamente grande. Joanesburgo tornou-se sobretudo numa cidade para os carros e em contraponto  muito pouco apelativa para trazer pessoas para a rua. A este facto juntou-se outro ainda mais dramático; o apartheid. Estes dois factores determinaram a relação entre seus habitantes. Uma cidade que cresceu de costas voltadas para as pessoas e por sua vez com pessoas de costas voltas para elas próprias não poderia nunca correr bem. Quando o espaço não é vivido, não tem uma escala humana e quando as pessoas não estão disponíveis para se encontrarem e se confrontarem dificilmente alguém pode esperar outro resultado que não este que hoje existe. Joanesburgo é, como se sabe,  uma das cidades mais violentas do mundo, mas não é uma violência que resulta propriamente da injustiça das diferenças económicas, que existem, mas sobretudo de uma cultura instalada na sociedade, uma cultura de descriminação, de desprezo pela vida humana e pelo valor e reconhecimento individual. Esta cultura produziu um medo generalizado no país mas sobretudo nesta cidade. Ao medo, as pessoas responderam com sistemas de segurança que as afastaram ainda mais da cidade e delas próprias. Como resultado disso o centro da cidade desertificou-se e foi deixado ao abandono, nas mãos de quem luta diariamente pela sobrevivência. A cidade parecia ter chegado a um ponto de não retorno até que um empresário, lunático,  se lançou numa aventura utópica. Comprou “meia dúzia” de quarteirões no centro e criou o projecto Arts on Main. O Arts on Main funciona num espaço multidiversificado, em antigos armazéns e edifícios, onde se incluem  áreas de restauração, de comércio e de arte e espéctaculo alternativo.  Há segurança na entrada das ruas que dão acesso ao espaço o que liberta as pessoas da habitual tensão que têm quando se deslocam no espaço público. O caminho a percorrer é enorme mas por agora o Arts on Main parece ser a única luz de esperança para quem deseja ver a cidade multicultural e multirracial fazer as pazes consigo mesmo.

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