Trabisang Primary School - Soweto - Joanesburgo
Mesmo utilizando a mais
sofisticada tecnologia GPS não é fácil conduzir pelas estradas de um
bairro ( parece que agora tem estatuto
de cidade ) de mais de dois milhões de habitantes. O Soweto (South Western
Townships) foi construído nos
anos 60 para albergar os negros que trabalhavam nas minas de ouro de
Joanesburgo, mas acabou por ficar famoso por causa das lutas anti-apartheid que
ali se desenvolveram. Entretanto o bairro cresceu e hoje não é fácil
descrevê-lo. De meia dúzia de pequenas casas simples, de tijolo e telhado de
zinco, semi-planeadas, passou para uma enorme malha “urbana” onde se encontra
de tudo um pouco, desde a mais pobre casa feita de madeira, cartão e chapa até
casas de cimento e tijolo que se poderiam perfeitamente integrar na paisagem costeira/
balnear do nosso Portugal. A populacão também foi mudando, principalmente
depois da queda do apartheid. Alguns negros com dinheiro começaram a comprar
casas no centro da cidade ( antiga zona de brancos ) o que fez com que os
brancos se fossem embora para bairros de condominios fechados nos arredores.
Este facto desvalorizou as casas do centro que se tornaram acessiveis a mais
pessoas vindas dos chamados bairros pobres. No Soweto o fenómeno foi idêntico,
as casas vazias foram sendo ocupadas por imigrantes que entretanto começaram a
chegar, provenientes de inumeros países de África, dando origem a uma outra
hierarquia na sociedade, esta menos racial e mais económica, ou talvez as duas
juntas. À cultura apartheid, que já tinha contaminado os mais pequenos recantos da
sociedade, juntou-se agora também a discrimanação económica. Os poucos brancos
que ficaram pobres são os únicos que
hoje vivem paredes meias com os negros. À antiga tensão racial juntou-se também
agora uma tensão económica. Nas ruas a “Guerra” já não é só entre brancos e
negros, mas também entre negros e negros e por vezes entre brancos e brancos.
Digamos que no país existe uma grande maioria de brancos e de negros que parecem
não descansar enquanto não se matarem todos uns aos outros, e depois, pelo meio,
existe uma minoria silenciosa ( de brancos e negros ) que acredita
verdadeiramente no país e que, no fundo, são os que vão segurando as pontas
desta nova nação. Mas voltando ao Soweto, para além desta amálgama social, o
bairro tem agora também para mostrar, a quem tiver interesse, uma vertente
turistica. A pequena casa onde Nelson Mandela viveu nos anos 60, está lá
transformada em museu. Foi ali que ele viveu, e foi ali igualmente, que se
fizeram algumas reuniões históricas do ANC. Nos anos que por ali passou,
constituiu familia e teve filhos que frequentaram a mais antiga escola do
bairro: Trabisang Primary School, a mesma escola que é, afinal, a razão da
minha vinda ao Soweto.
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