quarta-feira, 30 de junho de 2010

MARROCOS 2010, CADERNO 2

Há qualquer coisa de mágico nesta região do norte de Marrocos que faz com que eu goste particularmente dela. De onde vem essa magia é coisa que poderá não ser fácil de explicar. Acredito que se deve a uma mistura de coisas, de conceitos e culturas que nos habituamos, ao longo do tempo, a ver e a viver em separado. Se por exemplo a geografia, o clima e a paisagem nos lembram o sul de Portugal, já a forma de viver nos remete para o Próximo Oriente. A cultura, com tudo o que a ela está ligado ( comida, arquitectura, vocabulário e até a própria música ), então, é uma mistura perfeita dos dois mundos. Deve ser nesse cozinhado, nessa confusão, nessa amálgama que reside a tal magia, o facto de determinadas coisas nos parecerem familiares e distantes ao mesmo tempo. Depois, e como se não bastasse tudo isso, existe a história. A história de quem sempre ali viveu, de quem foi obrigado a "regressar", fugindo da Península e a de quem chegou sob o impulso da conquista, para alargar as fronteiras. Os portugueses iniciaram a sua expansão dos descobrimentos em 1415, com a conquista de Ceuta, os muçulmanos encerraram a sua presença na Península com a fuga de Granada em 1492.De uns e de outros ficou a obra ( as casas, as cidades, os castelos ) e histórias. Histórias que desapareceram e outras que perduraram na memória e nos livros. Também elas, as histórias se misturaram e se adulteraram com o tempo, baralhando a verdade da história. Hoje, passados tantos anos, nem sempre é fácil saber o principio, o meio e o fim de todas elas, mas como diria um tal de Bruce Chatwin, uma história não tem de ser verdadeira só precisa de ser bem contada. Bem contada e bem escutada, acrescento eu. Acho que deve ser isso que me faz gostar tanto de viajar.

Este desenho mostra a vista do terraço do Mc Donald's, em Tanger ( a baía com a Europa ao longe ). O simbolo do imperialismo americano, em terras do Profeta, com vistas largas para o el Dorado.
À minha volta, bandos de jovens marroquinos, de ganga e óculos escuros, lambuzam-se com as iguarias do Ocidente enquanto ouvem músicas anglo-saxónicas em telemóveis de última geração.
Será tudo isto apenas coincidência?

MARROCOS 2010, CADERNO 2

Tanger, às portas da medina.

MARROCOS 2010, CADERNO 2

Tanger, café junto ao porto

MARROCOS 2010, CADERNO 2

Tanger, a marginal com ares de Copacabana.

MARROCOS 2010, CADERNO 2

Tetouan, mercado de rua.

MARROCOS 2010, CADERNO 2

Tetouan

MARROCOS 2010, CADERNO 2

Tetouan, palácio real.

MARROCOS 2010, CADERNO 2


Tetouan, ao lado do palácio real.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

MARROCOS 2010


Tanger
Dez anos passaram desde a minha última ( e única ) viagem a Marrocos. Nessa altura o novo rei, Mohamed VI acabava de subir ao trono e com ele todo um balão de esperança para tirar o país da estagnação económica em que se encontrava. O seu pai, Hassan II, poucas ou nenhumas saudades tinha deixado no povo. O Marrocos daquela altura era um país em agonia económica vivendo de uma agricultura e pescas, rudimentar, das receitas dos emigrantes, do turismo ( que era quase perseguido pelos comerciantes em estado de desespero na expectativa de fazerem algum, pouco, negócio ) e pelos negócios ilícitos, com a droga à cabeça, e tráfico de pessoas para a Europa, a grande maioria destes negócios explorados por europeus.
Pelas ruas de Tanger e nos terraços da cidade era comum verem-se negros com olhares de desespero a lutar pela sobrevivência, diariamente, enquanto esperavam a hora de darem o salto para o sonho desejado. A Europa era a terra prometida, o fim que tinha justificado todos os meios, todos os esforços e todos os riscos. Ali estava ela, finalmente, a um pequeno passo, apenas dividida pelas águas do estreito. Poucos quilómetros de água mas uma gigante barreira para o salto final.
O Marrocos de hoje é um Marrocos diferente, disso não restam muitas dúvidas. O novo rei abriu o país ao Ocidente, que é como quem diz ao dinheiro do capitalismo, com tudo o que isso tem de bom e de mau, e empreendeu uma verdadeira operação charme para criar uma nova imagem aos olhos do mundo.
Tanger, a grande porta de entrada, foi assim uma das cidades escolhidas para construir a imagem do novo país. A praia da baía, outrora poluída e perigosa ( por causa do crime ) aparece agora com um visual ao melhor estilo Copacabana magrebina. Da antiga linha de comboio fez-se um calçadão enorme com palmeiras, cafés e discotecas, a construção imobiliária disparou por todo o lado e toda a antiga imagem de emigrantes ilegais que enchiam a cidade foi, verdadeiramente, varrida ( dizem ) para a fronteira da Mauritânia.
Nesta pequena viagem só estive no norte ( Tanger, Arsila e Tetouan ), mas o que vi foi um país diferente. A vertigem da Europa, do consumo e do dinheiro tomou conta do país. As pessoas estão mais contentes ( dizem ) e confiantes no futuro. Como é que um país com uma matriz tão tradicional e ortodoxa vai conseguir conciliar-se com este lado perverso do ocidente é a grande pergunta.

O meu fascínio por Tanger começou na literatura, muito por culpa do Paul Bowles que, como é sabido, fez desta cidade o seu local de residência a partir de 1947, ( espero não estar enganado na data ). Naquela altura Tanger era uma cidade franca onde os produtos e negócios ( lícitos ou ilícitos ) circulavam a seu belo prazer.
Essa circunstância e o facto de ali desembarcar um sem número de personagens famosos acabou por fazer da cidade uma espécie de local de culto, onde os ocidentais ( principalmente americanos que fugiam do vazio da América futurista e modernista dos anos cinquenta ) podiam encontrar o conforto ocidental paredes meias com o mais puro exotismo do imaginário dos viajantes oitocentistas e ainda uma total liberdade e libertinagem para comportamentos e tendências mal vistas nas suas terras.
Dizem que foi Gertude Stein quem recomendou a cidade a Paul Bowles. Depois dele outros se seguiram: William Burroughs, Kerouac, Alain Ginsberg, Matisse, para não falar de todos os gurus do rock dos anos 70, com os Rolling Stones à cabeça.
Já na minha primeira visita eu havia procurado o rasto desses anos dourados e desta vez também não foi diferente. A escolha do alojamento voltou a recair no mítico hotel Muniria, onde Kerouac terá ficado hospedado aquando da sua passagem pela cidade ( no quarto número 4 ). Por baixo, do hotel, no bar Tanger inn, existem algumas fotos que alimentam um pouco a ideia de que a história terá mesmo acontecido.
No Zocco Chico lá está o café onde Burroughs terá escrito o Nacked Lunch e onde ele e os amigos terão passado muitas horas das suas vidas. O café embora seja de 1813 já pouco tem que o distinga dos restantes novos cafés.
O Grande teatro Cervantes, com a sua fachada arte nova, tantas vezes referido no “ Deixai a Chuva Cair “ continua ainda de pedra e cal a caminho da mais completa ruína.
O Grand Hotel Ville de France, onde Delacroix e Matisse se hospedaram teve melhor sorte e prepara-se para se tornar numa espécie de condomínio privado Ville de France, ou qualquer coisa parecida.
O Hafa Café continua a ser o local de referência para as últimas horas do dia, para quem quiser sonhar com a Tanger de outros tempos e embriagar-se com o azul infinito do Atlântico.
As campas fenícias, com mais de dois mil anos, escavadas na rocha, logo ao lado do Hafa Café continuam atulhadas de latas de coca cola e sacos de lixo, convivendo paredes meias com o Atlântico sem fim.
Depois há toda uma cidade que fervilha do primeiro ao último minuto do dia. Principalmente os finais do dia continuam a ser momentos particularmente mágicos. Pelas ruas da medina alguns, poucos, falsos guias vendem-nos histórias de casas onde Tennessee Williams, Yve Saint Laurent, Bowles, Matisse e outros que tais terão vivido. Histórias repetidas à exaustão para estrangeiro ouvir, que parecem já não dizer absolutamente nada ao mais comum dos cidadãos da cidade.
Outra coisa boa de Tanger continua a ser a sua localização, seguramente um bom ponto de partida para toda as cidades à volta a começar pela Arsila ( que a nós portugueses tanto nos diz ), passando por Tetouan ( com a sua Medina património mundial da UNESCO ), Chefchauen às portas do Rif e por fim a eterna Ceuta, onde a aventura portuguesa dos descobrimentos terá começado no longínquo ano de 1415.
Os anos passam, as cidades vão mudando, mas o encanto é sempre o mesmo.

MARROCOS 2010

Tanger - Grand Teatro Cervantes

MARROCOS 2010

Tanger - boulevard Pasteur

MARROCOS 2010

Arsila

MARROCOS 2010

Arsila

MARROCOS 2010

Arsila - interior da medina

MARROCOS 2010

Arsila

MARROCOS 2010

Tetouan - praça Moulaey el Medhi

MARROCOS 2010

Tetouan

MARROCOS 2010

Tetouan - rua pedonal

MARROCOS 2010

Tetouan - interior da medina

MARROCOS 2010

Tetouan

quinta-feira, 10 de junho de 2010

FIGUEIRA DA FOZ 2010

Ao lado do moderno casino da Figueira da Foz está o antigo casino Oceano ... ainda a tentar perceber o que é que lhe aconteceu. A ele e à cidade.

POMBAL 2010


Para muito boa gente a história de Portugal terminou com o Marquês de Pombal. Depois dele não voltamos a ter um lider, na verdadeira grandeza da palavra ... dizem.
A casa do Marquês, em Pombal, merece bem uma visita, se quisermos saber mais qualquer coisa das qualidades e dos defeitos do estadista.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

MONTEMOR-O-VELHO

Dizem que Fernão Mendes Pinto terá nascido nesta terra. O mais famoso viandante de Portugal saiu daqui em tenra idade em direcção à capital do reino longe de imaginar as voltas que a sua vida iria dar e ainda mais longe de pensar que passados quase quinhentos anos alguém faria um " post" numa coisa chamada blog referindo-se à sua pessoa.